Identificação de aglomerados espaço-temporais de casos e óbitos de COVID-19 e o contexto sociodemográfico e ambiental nos bairros do município de Niterói/RJ
Silva, Elisabete Azevedo da
A doença do novo coronavírus transformou a vida da sociedade de forma abrupta, dada sua alta transmissibilidade e o modo de vida urbano; rapidamente o vírus se dispersou pelo planeta tornando-se uma pandemia. O objetivo desse trabalho foi identificar os aglomerados espaço-temporais dos casos e óbitos de COVID-19, e sua relação com os contextos sociodemográfico e ambiental nos bairros do município de Niterói/RJ. Foi realizado um estudo epidemiológico, descritivo e analítico do tipo ecológico, fundamentado nas notificações dos casos e óbitos por COVID-19 ocorridos no período de 01 de janeiro de 2020 a 31 de agosto de 2021. As unidades de análise foram os bairros de Niterói e a análise temporal foram as semanas epidemiológicas (SE). Os dados ambientais e sociodemográficos foram obtidos no IBGE. Os dados epidemiológicos foram cedidos pela FeSaúde Niterói. Foram utilizados casos e óbitos por COVID-19 notificados no SIVEP-Gripe. Para a análise estatística descritiva, utilizou-se R Core Team (R Foundation for Statistical Computing, 2020) e o Excel (Microsoft 365 Apps, versão 2207), como resultado foram gerados tabelas e gráficos. No software QGis (versão 3.10.14-A Coruña) os indicadores socioeconômicos e ambientais foram mapeados por setores censitários. Também foram mapeadas as taxas de incidência, mortalidade e letalidade hospitalar do município. No software SatScan (v10.0.2 64 bits) realizou-se a estatística de varredura espaço-temporal prospectiva, sob o modelo de distribuição de Poisson onde se analisou 12.733 casos e 2.229 óbitos por COVID-19 notificados no SIVEP-Gripe. Os parâmetros configurados no SatScan para mapear o risco relativo dos casos e óbitos foram: por Semana Epidemiológica (‘Generic’); janela de varredura fixada no centroide de cada bairro; os clusters foram restritos a ter ao menos 5 casos; janela espacial com saída máxima de 12% da população sob risco e formato circular; janela temporal com tamanho mínimo do cluster: 1 SE, e máximo: 50% do período do estudo. Os resultados da análise descritiva mostram uma taxa de incidência anual de 5.770,30 casos por 100.000 habitantes e uma taxa de mortalidade anual de 1.007,00 óbitos por 100.000 habitantes. A média de idade nos clusters de óbitos foi maior quando comparada aos clusters de casos. Na análise se identificou dez aglomerados espaço-temporais de casos de COVID-19, todos estatisticamente significativos; e nove clusters de óbitos, apenas um não apresentou significância estatística (C9: p-valor = 0,897). Na análise dos casos, o cluster com maior Log da Razão de Verossimilhança (LLR) foi o C1: localizando-se em Itaipu (629,89) e com menor foi o C10: localizado no Bairro de Fátima e Pé Pequeno (10,06). Na análise dos óbitos, o cluster com maior LLR foi o C1: Itaipu (119,37); e com menor foi o C8: Boa Viagem, Gragoatá, Ingá e São Domingos (8,61) Tais achados sugerem que os munícipes que residem na área de abrangência dos aglomerados apresentam maior risco de adoecer, e evoluir ao óbito, quando comparados àqueles que residem nos outros bairros. Mapas temáticos foram elaborados com informações dos indicadores e com os clusters obtidos. Os bairros de Itaipu e Icaraí foram os que apresentaram maior risco, tanto para incidência de casos como de óbitos, quando comparados aos demais bairros do município. Por fim, ressalta-se que a metodologia aplicada nesse estudo auxilia ao gestor na tomada de decisão, possibilitando-o utilizar de forma otimizada os recursos financeiros e humanos do município, bem como pode auxiliar na definição de ações de resposta às emergências sanitárias e desastres.