Title: Avaliação da resistência a inseticidas e mecanismos selecionados em populações de Aedes aegypti Linnaeus 1762 (Diptera, Culicidae) da fronteira entre Brasil e Guiana Francesa
Authors: Costa, Monique de Melo
Abstract: A prática excessiva do uso de inseticidas tem selecionado populações resistentes de Aedes aegypti em todo o mundo. Os principais mecanismos selecionados são modificação na molécula alvo do inseticida e alterações metabólicas que melhor detoxifiquem os compostos. Neste estudo, foram avaliados o perfil de resistência e os principais mecanismos selecionados em duas populações de Ae. aegypti do Amapá, Brasil: Macapá, capital do estado e Oiapoque, que faz fronteira com Guiana Francesa, uma das portas de entrada para o vírus chikungunya no país. Bioensaio dose-resposta indicou resistência ao larvicida organofosforado temephos em Macapá (RR50 = 6,5) e ainda maior em Oiapoque (RR50 = 21,8). Larvas de ambas as populações também apresentaram alta tolerância ao piretroide deltametrina, avaliadas em um ensaio simplificado de knockdown, que revelou índices de susceptibilidade de 30 e 36, respectivamente em Macapá e Oiapoque, em uma escala de 1 a 36. Testes com adultos revelaram a mesma tendência de maior resistência em Oiapoque. Em ensaios dose-resposta com kits tipo OMS e papéis impregnados com inseticida, observou-se RR50 para o organofosforado malathion e o piretroide deltametrina, respectivamente, de 3,1 e 46,4 (em Macapá) e 6 e 143,9 (em Oiapoque). Paralelamente, ensaio semi-quantitativo do tipo temporesposta a uma única dose (7 g/L de malathion e 1,2 g/L de deltametrina) confirmou resistência das populações do Amapá, principalmente ao piretroide. Mecanismos de resistência do sítioalvo foram investigados para os piretroides, através de análise de mutações kdr no canal de sódio (NaV). Genotipagem de SNPs, por qPCR TaqMan, nos sítios 1016 e 1534 do NaV, revelaram a presença dos alelos kdr NaVR1 (84 e 23%, respectivamente em Macapá e Oiapoque) e NaVR2 (67% apenas em Oiapoque). Somando, as frequências de genótipos para resistência (R1R1, R1R2 e R2R2) foram de 71 e 80% em Macapá e Oiapoque, nesta ordem Mutação no sítio 1011 foi encontrada, via PCR alelo-específica, somente em heterozigotos em Macapá, correlacionada à presença de duplicação no gene NaV. Variação no número de cópias deste gene foi avaliada por qPCR, indicando variação de duas a quatro cópias em indivíduos de ambas as populações. Dados de genotipagem dos sítios 1011, 1016 e 1534, somados à clonagem e sequenciamento da região IIS6 do gene NaV de alguns indivíduos, sugerem a duplicação gênica de diversos alelos deste gene. A seleção de mecanismos da resistência metabólica, também foi avaliada através de análise de expressão de quatro genes da família CYP e um da família CCE, comparada à linhagem Rockefeller. Superexpressão (acima de duas vezes o valor de Rockefeller) foi encontrada em ambas as populações para os genes CYP6BB2, CYP9J10, CYP9J28 e CCEae3a, mas não para o CYP9M6. CYP6BB2 foi o mais expresso, cerca de 6X nas duas populações e CCEae3a, que está mais relacionado à resistência a organofosforados, cerca de 6 e 4X, respectivamente em Oiapoque e Macapá. Em suma, as diferenças entre as RR ao piretroide entre Macapá e Oiapoque podem ser parcialmente explicadas pela presença do alelo NaVR2, bem como de maior expressão do CCEae3a em Oiapoque aos organofosforados. Contudo, é provável que outros mecanismos estejam envolvidos. O monitoramento da resistência a inseticidas em Ae. aegypti na região de fronteira entre Brasil e Guiana Francesa, bem como a elucidação dos mecanismos envolvidos, podem ajudar a melhor orientar o controle químico do vetor naquela importante região