Avaliação da inter-relação de casos de COVID-19 e letalidade com as características climáticas e efeitos da poluição atmosférica
Neves, Jéssica Milena Moura
Estudos sugerem que à incidência do SARS-CoV-2 pode ser influenciada por fatores ambientais, como as diferenças climáticas regionais. Para mais, a poluição do ar vem sendo estudada como cofator para mortalidade e letalidade da doença, uma vez que a maioria das condições preexistentes que aumentam o risco de morte pelo vírus, são as mesmas afetadas pela exposição a longo prazo à poluição do ar. O estudo propõe investigar as características climáticas regionais na incidência cumulativa do período, taxa de mortalidade e letalidade por COVID-19 e avaliar os possíveis efeitos da poluição atmosférica na taxa de mortalidade e letalidade por SARS-CoV-2 no Brasil. Trata-se de um estudo ecológico, no qual foram incluídos todos os municípios do Brasil que registraram casos e óbitos durante o período de 4 de março de 2020 à 31 de dezembro de 2021. Os dados relacionados às variáveis climáticas foram obtidos do WorldClim, e os relacionados a concentrações de PM2.5 foram disponibilizadas pelo satélite ERA5 disponível no site Copernicus Atmosphere Monitoring Service (CAMS). Para a realização da modelagem, foram calculados a incidência cumulativa do período, taxa de mortalidade e taxa de letalidade por 100 mil habitantes e realizadas análises de percentis. Ademais, foram utilizados a média da concentração de material particulado (PM2.5) do ano de 2020 e relacionadas as taxas de mortalidade e letalidade. Foi utilizado uma adaptação de modelos de distribuição de espécies (SDM). A escolha dos modelos foi realizada mediante avaliação da estatística ROC. Ao todo foram selecionados sete modelos com maior qualidade preditiva (MAXENT, MARS, RF, FDA, CTA, GAM e GLM). A relação foi estimada utilizando o pacote “biomod2” do software R e os mapas foram melhorados no software QGIS. A variável bioclimática que demonstrou maior contribuição relativa para os modelos preditivos em relação a alta incidência cumulativa e taxa de mortalidade foi a faixa anual de temperatura e letalidade foi a sazonalidade da precipitação. A modelagem indicou maior probabilidade e adequabilidade das condições climáticas em relação à alta incidência em municípios localizados nas regiões Norte e Sul e em alguns pontos da região Centro-Oeste (AUC = 0,85), alta mortalidade sobretudo nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste (AUC = 0,88) e alta letalidade em áreas localizadas nas regiões Centro-Oeste, Sul e Nordeste (AUC = 0,82). Análises da concentração de PM2.5 em relação à alta mortalidade (AUC = 0,63) e letalidade (AUC = 0,59) revelaram uma área, de elevada adequabilidade na Região Norte e Sudeste. Essa área coincide com a faixa de queimadas que ocorrem no Brasil e pontos equivalentes a áreas com intensa industrialização. Após modelagem, o estudo sugere que em relação à COVID 19, há regiões no Brasil com maior probabilidade dos fatores climáticos e da poluição atmosférica estarem contribuindo para os elevados indicadores de saúde investigados