Avaliação dos critérios clínicos de definição de caso de chikungunya em pacientes atendidos pela vigilância sentinela, Rio de Janeiro, 2016 a 2019
Batista, Raquel Pereira
A presente dissertação teve o objetivo de derivar e validar uma regra de predição clínica para o diagnóstico de febre chikungunya, bem como comparar a acurácia desta regra com aquelas propostas por organismos governamentais nacionais e internacionais. Trata-se de um estudo diagnóstico, com base na coorte retrospectiva de pacientes com doença febril aguda (n=4.406), atendidos nas unidades básicas de urgência e emergência do sistema de vigilância sentinela para arboviroses, no município do Rio de Janeiro, Brasil, 2016-2019. Após triagem e exame clínico, foram coletadas amostras de sangue e urina. A confirmação diagnóstica baseou-se no resultado do RT-PCR para chikungunya (padrão de referência), dengue e zika. A amostra foi subdividida aleatoriamente em duas. Na primeira amostra, modelos de regressão logística simples e múltipla foram usados para derivar uma regra de predição clínica para o diagnóstico de chikungunya. O escore para esta regra foi baseado na soma dos preditores clínicos incluídos no modelo final, utilizando como fator de ponderação os coeficientes beta do modelo de regressão múltipla final. Foi calculada a área sob a curva ROC (AUC) e intervalo de 95% de confiança (IC 95%). Na segunda amostra, foram avaliados os seguintes parâmetros de acurácia (IC 95%) desta regra derivada e dos critérios de definição propostos nas diretrizes do Ministério da Saúde (2017), Organização Mundial de Saúde (OMS, 2015), Organização Pan-Americana da Saúde (PAHO, 2011) e dos Centros de Prevenção e Controle de Doenças norte-americano (CDC, 2011) e europeu (ECDC, 2018): sensibilidade, especificidade, valores preditivos e razão de verossimilhança positiva e negativa. Na coorte de 3401 indivíduos com informações completas para os preditores clínicos e resultado RT-PCR, 644 casos foram positivos para chikungunya, 96 para zika, 54 para dengue e 2607 casos negativos para estas arboviroses. Na amostra 1 (n=1700), a regra derivada incluiu febre (1 ponto), exantema (1 ponto), mialgia (2 pontos), artralgia ou artrite (2 pontos), edema articular (2 pontos), com AUC = 0,694 (IC 95%: 0,665−0,724). Na amostra 2 (n=1701), para escores ≥ 4 na regra derivada, a sensibilidade foi 74% (68,6−78,6) e a especificidade de 51% (48,1−53,4), com menor taxa de falso-positivos do que as regras anteriormente propostas. Espera-se que esta regra possa ser útil para a vigilância de febre chikungunya, especialmente durante epidemias, quando os recursos são escassos.